Nesta nova e provocativa obra, que integra o projeto Homo Sacer, o filósofo Giorgio Agamben volta sua arqueologia filosófica ao universo sacerdotal, ou seja, aos sujeitos a quem compete, por assim dizer, o ministério do mistério . Opus Dei, a obra de Deus , é a definição de liturgia, isto é, o exercício da função sacerdotal de Jesus Cristo [...] , de acordo com a tradição da Igreja Católica. O vocábulo liturgia (do grego leitourgia, prestação pública ) é, entretanto, relativamente moderno: antes de seu uso, era frequente o termo latino officium. Analisando o ofício divino e humano, o livro demonstra porque o mistério litúrgico é a chave para compreender como a modernidade forjou tanto a ética quanto a ontologia, tanto a política quanto a economia do nosso tempo.Em O reino e a glória, publicado pela Boitempo em 2011, Agamben buscou esclarecer o mistério da economia . Neste livro, ele faz a genealogia do mistério litúrgico desde as origens do cristianismo, procurando afastar seu objeto de estudo das imprecisões modernas, restituindo a seu estudo o rigor e o esplendor dos grandes tratados medievais de Amalário de Metz e Guilherme Durando, entre outros.Também desfaz o mito da separação com outras esferas da vida social: o mistério litúrgico é aqui indagado no âmbito da praxe terrena , indica o tradutor Daniel Arruda Nascimento, no texto de orelha.No trabalho inovador de Agamben, a liturgia se torna uma tentativa radical de pensar uma prática efetiva/efetual. Identificando o mistério da liturgia com o da efetividade/efetualidade, o filósofo revela o impacto dessa prática na gênese das categorias fundamentais da modernidade.A pesquisa de Agamben mostra como o Opus Dei constituiu para a cultura secular do Ocidente um polo de atração penetrante e constante, como atesta a difusão do termo ofício nos setores mais diversos da sociedade. Para o filósofo, esse termo significou uma transformação decisiva das categorias da ontologia e da praxe. No ofício, ser e praxe, aquilo que o homem faz e aquilo que o homem é, entram em uma zona de indistinção, na qual o ser se resolve em seus efeitos práticos e, com uma perfeita circularidade, é aquilo que deve (ser) e deve (ser) aquilo que é , afirma Agamben na introdução ao livro. Nesse sentido, propõe que a operatividade e a efetualidade definem o paradigma ontológico que, no curso do processo secular, substituiu aquele da filosofia clássica. Em última análise, tanto do ser quanto do agir nós não temos hoje outra representação senão a efetualidade. Real é só o que é efetivo e, como tal, governável e eficaz: a tal ponto o ofício, sob as vestes simples do funcionário ou gloriosas do sacerdote, mudou de alto a baixo tanto as regras da filosofia primeira como as da ética. Agamben não exclui a possibilidade de que hoje esse paradigma esteja atravessando uma crise decisiva e perdendo seu poder atrativo, apesar do assim chamado movimento litúrgico na Igreja católica, por um lado, e das imponentes liturgias políticas dos regimes totalitários, por outro. Acompanhando a argumentação do filósofo italiano, em assédio ao influxo que permite que o dever se torne o conceito fundamental da ética por nós adotada, estaremos talvez em condições de pensar uma ética e uma política liberadas da dependência das categorias do dever e da vontade , conclui Nascimento.
- Editora: BOITEMPO
- Autores: AUTOR: AGAMBEN, GIORGIO | Traduzido por: NASCIMENTO, DANIEL ARRUDA
- ISBN: 9788575593325
- Capa: Brochura
- Edição: 1ª EDIÇÃO - 2013
- Formato: 14.00 x 21.00 cm
- Páginas: 144