A cidade das letras é considerada uma obra de referência para a teoria literária. Escrita por um apaixonado pelo nosso continente, sua cultura e seus povos, neste livro Rama - que está para o Uruguai como Antonio Candido está para o Brasil - analisa o sistema cultural latino-americano entre os séculos XIX e XX, em especial o período de 1870-1900.As referências do autor partem da cultura - sem negar suas pluralidades, interfaces, fronteiras, divisões, tensões e contradições - e incluem temas urbanísticos, sociais e econômicos ao retratar a principal questão sobre a qual discorre o livro: as relações entre os letrados e as estruturas de poder. Por meio desse prisma, Rama estuda a concepção, o planejamento e a consolidação das cidades latino-americanas, desde a destruição da asteca Tenochtitlán, em 1521, até a inauguração de Brasília, na década de 1960.O livro traz o melhor da crítica cultural de Ángel Rama ao analisar o desenho dos valores em pauta na formação das cidades e o discurso urbano da conquista, presente em cartas, grandes clássicos da literatura e outros documentos históricos. Ao revelar as cidades latino-americanas por meio das letras e da ordem dos signos, Rama traça um paralelo entre os projetos urbanísticos e o ideal desejado de urbe limpa, estéril e civilizada.A obra mostra como as cidades do novo continente foram idealizadas e racionalmente estruturadas como um sonho de ordem, desejo antigo dos europeus em sua conquista por uma cidade ideal , em contraposição às caóticas cidades renascentistas surgidas de espaços medievais, orgânicos . Ao longo de seis capítulos, Ángel Rama constrói sua narrativa a partir da definição de cinco momentos históricos vivenciados por esses lugares - a cidade ordenada, a cidade letrada, a cidade escriturária, a cidade modernizada e, por fim, a cidade revolucionária -, a fim de explicar como a imposição dessa organização se tornou estratégica para a dominação da América Latina na era expansionista, oferecendo aos colonizadores páginas em branco , nas quais poderiam colocar em ação seus projetos de cidades ideais até então frustrados.Na concepção de Rama, a cidade das letras foi historicamente o espaço adequado para a ação do setor acadêmico, que usava a universidade como ponte para ocupar esferas de poder, acessíveis apenas àqueles de formação privilegiada. Brilha, na análise de Rama, a consideração do papel dos intelectuais neste processo que, embora vertiginoso de construção, desconstrução e reconstrução, demorou séculos até o nosso vigésimo-primeiro. Este papel se desdobrou em missão sacerdotal, administrativa, escriturária, cartorial, muitas vezes querendo reafirmar os valores europeus diante da barbárie nativa do continente , afirma Flávio Aguiar, no texto de orelha, apontando a função crucial que a classe letrada desempenhava por estar estreitamente ligada às funções do poder.Ao concluir sua tese, Rama defende que o Estado, após quatrocentos anos de monopólio, finalmente deixaria de ser o âmbito por excelência da produção de textos. Em sua visão, a luta pelo controle da palavra escrita descentralizaria seu domínio, reconfigurando não só suas relações com a sociedade civil, mas também entre intelectuais e o público, entre a letra e poder.Originalmente lançado em 1984 - após a morte de Rama -, A cidade das letras conta com apresentação de Mario Vargas Llosa e prefácio de Hugo Achúgar. A edição da Boitempo ganhou especialmente um índice onomástico com uma curta biografia para cada nome citado, um importante acréscimo se considerado o desconhecimento geral, por parte do público brasileiro, dos demais escritores e pensadores latino-americanos.
- Editora: BOITEMPO
- Autores: Traduzido por: SADER, EMIR | AUTOR: RAMA, ÁNGEL
- ISBN: 9788575594285
- Capa: Brochura
- Edição: 1ª EDIÇÃO - 2015
- Formato: 16.00 x 23.00 cm
- Páginas: 160