Antonella Anedda (1955) é uma das vozes mais lúcidas e delicadamente contundentes da poesia italiana hoje. Noites de paz ocidental, publicado em 1999, é mais do que nunca atual diante do cenário social e político do mundo contemporâneo. Neste livro, a poeta enfrenta a vulnerabilidade e a instabilidade da condição humana, vista através do esfarelamento do tempo e da memória do nosso cotidiano. Mas também seus versos trazem uma firme recusa do acomodamento do Ocidente à barbárie, muitas vezes sorrateira, associada a imigrações e guerras. A poética de Anedda avança, como bem sublinha Andrea Cortellessa no posfácio, numa “escavação progressiva da sua escrita nas raízes mais profundas do mal”.
Nessa dimensão em que a esfera pessoal se desdobra a todo instante numa evocação coletiva, vai se construindo uma tessitura entre prosa poética e verso livre que é lírica e ética, forte e sensível, sonora e essencial. Os espaços privados, inclusive os da casa, se abrem assim para um plano dialógico que remete a outras paisagens residuais, tanto físicas quanto mentais, afiadas e despojadas, em diálogo com uma tradição literária que vai de Mandel’stam a Tsvetaeva, de Celan a Herbert, de Brecht a Sebald, passando pela italiana Amelia Rosselli.
O olhar “exilado” de Anedda, nascida em Roma, encontra uma marca significativa na insularidade, pois a obra desta autora, assim como suas raízes familiares, está indissoluvelmente ligada à região italiana da Sardenha, lugar privilegiado de observação da tensão irresolvível entre aspiração e impossibilidade: “O que chamamos de paz /só tem o breve alívio da trégua. / Se nome é também alcançar a si mesmo / nenhum desses mortos alcançou seu destino”.
- Editora: Viveiros de Castro Editora
- Autores: AUTOR(A): ANEDDA, ANTONELLA
- ISBN: 9786559059362
- Páginas: 144