Expressões como “estrutura das psicoses”, “estrutura perversa”, “estrutura da neurose”, assim como referências à estrutura histérica, fóbica, obsessiva ou paranoica dominam o vocabulário lacaniano desde os primeiros seminários. [...] Para Lacan, mais além dos fenômenos clínicos que caracterizam neuroses, perversões e psicoses – o sintoma, a alucinação e o fetiche – a investigação freudiana abre caminho para a compreensão daquilo que condiciona tais fenômenos, dos mecanismos psíquicos dos quais eles são a expressão. [...] E embora o próprio Freud jamais tenha utilizado a expressão “estrutura clínica”, nem tenha descartado a necessidade da presença de fenômenos clínicos para o diagnóstico psicanalítico – conversões, para as histerias; compulsões, para as neuroses obsessivas; medos, para as fobias; alucinações e delírios, para psicoses; e fetiches, para as perversões – é da teoria freudiana que Lacan recolherá os conceitos que servirão para definir neuroses, psicoses e perversões enquanto estruturas clínicas. [...] Entretanto, ao retomar de Freud tais mecanismos, Lacan faz mais que simplesmente reordenar a psicopatologia freudiana. O modo como ele retoma de Freud cada um dos mecanismos de defesa, seu caráter estrutural, traz inovações clínicas tão valiosas, que é inevitável reconhecer, nessa retomada lacaniana de Freud, uma clínica propriamente lacaniana. [...] É Lacan, e não Freud, que separa neuroses, psicoses e perversões pelos mecanismos da Verdrängung, da Verleugnung e da Verwerfung, dando destaque a três tipos de funcionamento estrutural, definidos por cada um destes mecanismos.
- Editora: Toró Editora
- Autores: AUTOR(A): Faria, Michele Roman
- ISBN: 9786588722152
- Páginas: 174